Audiência Publica sobre Transporte Coletivo Urbano de Feira de Santana

Foto: Vicen Ferreres

A manhã inteira de debates sobre o transporte coletivo urbano de Feira de Santana resultou em uma conclusão simples: o sistema tem problema e o BRT ainda é uma incógnita para a maioria dos feirenses. Foi nesta sexta-feira (17), na Audiência Pública realizada pela Câmara Municipal, por iniciativa da Comissão Obras, Urbanismo, Infraestrutura, Agricultura e Meio Ambiente. A condução dos trabalhos ficou a cargo do vereador Roberto Tourinho, que também preside a comissão.

O processo de recuperação judicial para buscar o equilíbrio, a concorrência desleal do transpor clandestino e a situação crítica encontrada pelas empresas foram apontadas Claudinei Aparecido Castanha, consultor técnico e economista da empresa Rosa, que admitiu algumas dificuldades pelo fato de não ter sido atingida a demanda de usuários prevista inicialmente.  Ele disse que a média de reserva técnica de frota é de 5 a 10% e a Rosa está com 7%. Sobre a operação do sistema BRT, o técnico afirmou que Inicialmente o sistema iria funcionar com a frota e as linhas existentes. “O contrato prevê e as empresas vão cumprir, quando as obras forem concluídas, mas vai ser necessário uma racionalização”, explicou Claudinei Castanha, antecipando que terá que ser feito um estudo para modificação de algumas linhas, desativação de outras e criação de novas. “Vamos cumprir os deveres e cobrar os direitos”, declarou.

O advogado Carlos Daniel Rolfissen, da empresa São João, assegurou que o contrato, que tem prazo de 15 anos, será cumprido até o final e para isso defendeu a viabilidade financeira do sistema. “Feira de Santana passou a ter a frota mais nova do país”, disse, citando a licitação das vans, realizada pela Prefeitura Municipal, para acabar com a concorrência desleal. “Vamos continuar em Feira de Santana”, pontuou.

Os secretários

A Audiência Pública contou com a participação de três secretários municipais, que falaram sobre as ações governamentais para a melhoria do sistema de transporte coletivo e o andamento das obras do BRT. João Marinho Gomes Júnior, titular da Secretaria de Administração, destacou a preocupação com a lisura da licitação, lembrando que seis empresas foram habilitadas e, por questões judiciais, o processo durou seis meses. “Mas não houve nenhuma irregularidade”, atestou.

Sobre o BRT, o secretário de Planejamento, Carlos Brito, informou que foi necessário fazer uma reprogramação, para concluir as obras em dezembro, mas ainda haverá um atraso de aproximadamente dois meses, por causa do período de chuvas – junho, julho e agosto. Brito disse que quando o assunto dá mídia o povo faz estardalhaço, mas assegurou que “o governo está muito confortável para tirar dúvidas e às ordens para qualquer questionamento”.

Ainda em defesa do governo, o secretário de Transporte e Trânsito, Saulo Figueiredo, disse que a realidade de desequilíbrio econômico não é somente em Feira de Santana e citou situações similares em Salvador e no Rio de Janeiro. “O grande problema que temos não é só o transporte clandestino, mas a necessidade de otimização das linhas”, disse, destacando que “as vans irregulares bagunçam o trânsito, cobram menos e atraem as pessoas”. Saulo Figueiredo afirmou ainda que a frota 100% acessível, o que só ocorre, segundo ele, em 5% das cidades da Bahia. “Feira está entre as 10 cidades com tarifas mais baixas e a primeira que terá Wi-fi nos ônibus”, anunciou. Sobre as condições da frota, o secretário informou que a média nacional da idade dos ônibus é seis anos e a média em Feira de Santana é três anos e meio.

Vereadores

Um dos seis vereadores presentes à audiência, Alberto Nery, que também é membro da comissão que promoveu o evento, disse que ouve os reclames da sociedade e tem consciência de que “o transporte não é uma maravilha”. Nery lembrou o “calote” em que foram perdidos R$12 milhões e acusou as empresas de estarem falindo em menos de dois anos da licitação. “Estão tentando fantasiar a realidade. Temos um sistema falido”, acusou.

Para o vereador Cadmiel Pereira, o problema é que as cidades incharam e a população fica nas periferias. “José Ronaldo fez as estações de transbordo e colocou mais ônibus. Ainda está ruim?”, questionou. Já Edvaldo Lima, que disse ter respaldo para falar do transporte, já que em 2013 fez um projeto de lei para combater a irregularidade, pediu a garantia da empregabilidade. “Nós precisamos de empresários que garantam empregos”, cobrou.

“Nunca tivemos um transporte que correspondesse às expectativas”, afirmou o vereador e presidente do Legislativo José Carneiro Rocha, lembrando que o município interviu na época das empresas Princesinha e 18 de setembro. “Hoje os próprios clandestinos estão pedindo fiscalização”, disse. Para Luiz Augusto de Jesus (Lulinha), a prova de que o transporte está melhor é o fato de não haver mais manifestações de estudantes, como em outros tempos. “Dificuldade tem, mas as empresas estão trabalhando”, frisou.

O vereador Antônio Carlos Passos Ataíde avaliou que o discurso de que o transporte está ruim é válido e merece respeito, mas alertou que muitas coisas são “picuinhas políticas”. Mas defendeu que haja melhorias. “Foram colocados mais de 200 ônibus novos. Se estão aí, eu não sei. Temos que cobrar o que está no edital da licitação e criticar para melhorar”, disse Carlito do Peixe. Representantes de entidades de classe também se manifestaram durante as discussões.(Ascom)