Senso crítico
Imagine! Se o saber fosse democratizado no Brasil, sobretudo o ensino superior, contemplando todas as pessoas de baixa renda e de pouca escolaridade. Os indivíduos pudessem, por exemplo, descrever a diferença entre senso comum e conhecimento científico; discutissem as explicações filosóficas de Sócrates e Platão acerca do mundo; conhecessem o materialismo-histórico- dialético proposto por Karl Marx, o liberalismo político de John Locke e o método de investigação psicológica dos processos mentais criado por Sigmund Freud.
O que mudaria no país se todas as escolas fossem informatizadas; se os alunos refletissem sobre o "voto de cabresto"; tivessem a consciência ambiental de Chico Mendes; entendessem a poesia social de Castro Alves; ou pelo menos, abrissem a Constituição Brasileira e os sites dos institutos de pesquisas, com o propósito de verificar se os agentes do poder estão praticando ações contrárias à eficácia cívica e ao bem comum?
Quem arriscaria um palpite se a população menos favorecida dançasse arrocha, axé e samba, mas também ouvisse Mozart e Tom Jobim; risse com Tiririca, Tom Cavalcante, Renato Aragão e não silenciasse com o humor de Juca Chaves e Jô Soares; sintonizasse na Globo, SBT, Bandeirante, Record e não se esquecesse da TV Cultura; tivesse acesso ao teatro, museus, laboratórios e bibliotecas; lesse revistas de sexo, moda, fofoca e, no entanto, priorizasse as notícias de interesse público dos meios de comunicação de massa?
Já pensou! Se o ensino básico gratuito não fosse simplificado. Por exemplo, se 80% dos estudantes discorressem sobre a importância das relações interpessoais e da ética para o bem estar social; analisassem o perfil sociopolítico-econômico e cultural dos heróis brasileiros; a ocupação estrangeira na floresta amazônica, bem como a inspeção americana nas usinas nucleares de Angra dos Reis e, ainda, cientificasse acerca dos temas: alimentos transgênicos, células tronco, biodiesel, eutanásia, internet, sensacionalismo, clonagem, robótica, bolsa de valores…
Entretanto, acredita-se que um indivíduo que alcança um estágio intelectual é capaz de discernir que a cultura do Norte-Nordeste não é superior nem inferior as das outras regiões; que não há comprovação científica a despeito da imagem física de Jesus Cristo, como por exemplo, pele branca e olhos claros; que o jornalismo pós-moderno não está cumprindo satisfatoriamente sua missão social, enfim, que o homem bem educado está apto a fazer uma averiguação concisa do desenrolar real dos fatos.
Jornalista Sérgio Augusto