Dados coletados durante as ações de Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) realizadas na Bahia serão utilizados na construção de um dossiê que apresentará o cenário da produção, transporte, armazenamento e utilização dos agrotóxicos no estado. O documento está sendo elaborado pelo Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FBCA) e deve ser concluído até o próximo mês de setembro. “Ele será um importante instrumento de denúncia dos impactos negativos causados por tais venenos na saúde humana, no meio ambiente e nos alimentos”, registra a coordenadora do Fórum, promotora de Justiça Luciana Khoury, ao destacar a sua preocupação com a possível aprovação do Projeto de Lei nº 6229/2002, que tramita na Câmara dos Deputados e propõe alterações na lei que regulamenta o uso dos agrotóxicos no Brasil.

Segundo Luciana Khoury, as propostas previstas no PL, além de se apresentarem como um grande retrocesso, implicarão significativamente no controle da saúde e do meio ambiente da população. Ela explica que, atualmente, está em vigência no Brasil o tríplice controle (Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura) para que um produto seja registrado. O Projeto de Lei entretanto prevê que os pareceres da Anvisa e Ibama não serão vinculativos e, caso não sejam concluídos no prazo de 24 meses, o produto terá registro temporário no país, independente dos efeitos que cause. Uma audiência pública será realizada na Assembleia Legislativa da Bahia, no próximo dia 1º de agosto, para discutir o PL. Já os dados até então coletados pela FPI estão servindo de base para construção do dossiê, principalmente os diagnósticos elaborados por profissionais da saúde e meio ambiente. Também são coletados para construção desses diagnósticos informações de instituições que têm competência para a fiscalização e monitoramento de agrotóxicos.

O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Um número significativo de agrotóxicos banidos em países da União Europeia ainda são utilizados aqui, informa a promotora de Justiça. De acordo com ela, dos 50 agrotóxicos mais utilizados Brasil, 22 já são proibidos na Europa. O glifosato, por exemplo, é bastante usado no Brasil e acabou de ser banido na França por conta do seu potencial carcinogênico. Na Bahia, complemente Khoury, “a produção agrícola tem crescido bastante e consequentemente há um aumento no uso de agrotóxicos. Por isso, é necessário termos mais informações a respeito dos impactos causados na saúde e no meio ambiente.”

O Fórum Baiano foi criado em 2012 e tem na sua composição 38 entidades não governamentais, poder público, universidades, dentre outros atores. Luciana Khoury é a atual coordenadora do Fórum e foi reeleita na última sexta-feira, dia 13, para continuar a frente da entidade no novo biênio. O técnico da Divisa, Ruy Muricy, foi eleito coordenador suplente e o engenheiro agrônomo do Crea, João Bisco, como secretário-geral. O Fórum possui um plano de ação que prevê a ampliação das informações para a população sobre os temas relacionados aos agrotóxicos, das ações de proteção efetiva contra os males provocados pelo produto e promoção da interiorização das discussões na temática.